12 abril 2010

Post 30 - Reforma Íntima e Evolução do Espírito


Jornadas seculares são empreendidas pelo ser até atingir a perfeição.
A reencarnação é instrumento necessário para que os degraus evolutivos sejam vencidos um a um. No contexto dos seres humanos, a prática da lei universal do amor é o caminho indicado para que o progresso seja atingido. Nem sempre é possível tal exercício, porque o encarnado pode não estar bem preparado a compreendê-la, aceitá-la e praticá-la. Necessita, pois, de reforma íntima.

A todo instante de sua peregrinação pela vida material, o indivíduo está recebendo importantes orientações do Plano Espiritual, através de intuições e inspirações. Durante o sono, quando está em desprendimento do corpo físico, o Espírito, liberto momentaneamente, recebe, se a tanto tiver receptivo, bons conselhos dos mentores e amigos espirituais.

Dar valor e, sobretudo, seguir tais alertas torna-lhe mais fácil a busca da evolução, viabilizando a modificação interior dos seus sentimentos.

Tais advertências podem servir para ressaltar a necessidade de autocrítica, incentivar a mudança de atitudes e mesmo deter um procedimento menos digno ou anticristão. Portanto, são sempre valiosas para a reforma íntima.

A reencarnação pode ser enfocada de duas formas: genérica e específica.

A primeira considera-a como um todo, ou seja, o processo ao longo de milênios que irá conduzir o ser à perfeição.

A segunda trata de uma existência material, situando-a no período determinado de algumas décadas, de modo geral.

Vista sob o prisma genérico, a reforma íntima é o propulsor indispensável para fazer todo o processo global da evolução do ser e impulsioná-lo à total purificação. No ângulo específico, a reforma íntima constitui-se de atos isolados, no dia-a-dia do encarnado, levando-o a melhorar-se nas suas mais variadas atitudes, para depois, ampliando o contexto, alterar a sua conduta, tornando-a cada vez mais próxima do comportamento ideal e cristão.

Em conclusão, a reforma íntima garante a evolução, seja no cenário global das várias reencarnações pelas quais o Espírito passa, seja no contexto específico daquela que está vivenciando.

A somatória das reencarnações bem sucedidas significa a síntese do progresso do ser.

O mundo evolui, a humanidade prospera, comunidades inteiras mudam de plano e, como componente elementar de todo esse processo, progride individualmente cada Espírito, centelha de vida criada por Deus.

Vantagens imediatas decorrentes da prática da reforma íntima:

Não somente de perspectiva futura deve viver o ser humano no contexto da reforma íntima. Afinal, a modificação interior dos valores, a transformação para melhor dos seus sentimentos e a prática, no cotidiano, dos ensinamentos do Cristo, trazem-lhe efetivamente melhorias sensíveis.

Ser um adepto da lei do amor torna o homem mais dócil e compreensivo, deixando-o à mercê dos bons conselhos; granulam-se ao seu redor os lumes da esperança perpétua e consolida-se o seu universo de paz.

Estar em paz no enfrentamento da acre vida cotidiana traz benefícios imediatos ao encarnado: menos doenças materiais e espirituais; ausência prolongada de obsessões indesejáveis; condutas e atitudes cristãs formalizadas; maiores e palpáveis possibilidades de sucesso material, acompanhado do precioso auxílio caritativo consolidado; enfim, alcance em maior grau da felicidade relativa capaz de ser vivenciada no mundo corpóreo.
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Curso Reforma Íntima
Soc. Espírita Ramiro D´Ávila
Abril / 2010

Post 29 - RIGIDEZ


O excesso de rigidez e severidade faz com que criemos um padrão mental
que influenciará os outros para que nos tratem da mesma forma como os tratamos.

Teimosia é uma forma de rigidez da personalidade. É um apego obstinado às próprias idéias e gostos, nunca admitindo insuficiências e erros.

Conviver com criaturas que estão sempre com a razão, que acreditam que nasceram para ensinar ou salvar todo mundo e jamais transgridem a nada, é viver relacionamentos desgastantes e insatisfatórios.

Quase sempre, fugimos desses indivíduos dogmáticos, incapazes de aceitar e considerar um ponto de vista diferente do seu. Nesses relacionamentos, ficamos confinados à representação de papéis instrutor-aprendiz, orientador-orientado, mentor-pupilo. Somente escutamos, nunca podemos expressar nossa opinião sobre os eventos e as experiências que compartilhamos.

As pessoas teimosas vão ao excesso do desrespeito, por não darem o devido espaço para as diferenças pessoais que existem nos amigos e familiares.

“(...) pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”

Os limites traçados pela natureza nos ensinam onde e quando devemos parar, bem como por onde e quando devemos seguir. A Natureza respeita nossos dons próprios, ou seja, nossa individualidade. Assim, devemos também aceitar e respeitar nosso jeito exclusivo de ser, bem como a de todos aqueles com quem compartilhamos a existência terrena.

O excesso de rigidez e severidade faz com que criemos um padrão mental que influenciará os outros para que nos tratem da mesma forma como os tratamos. Poderemos ainda, no futuro, provocar em nós um sentimento de autopunição, pois estaremos usando para conosco o mesmo tratamento de austeridade e dureza. O arrependimento se associa à culpa, nascendo daí uma vontade de nos redimir pelos excessos cometidos, o que acarreta uma necessidade de expiação – o indivíduo se compraz com o próprio sofrimento.

Nossos limites se expressam de maneira específica e ninguém pode exigir igualdade de pensamento e ação de outro ser humano. Respeitando nossa singularidade, aprenderemos a respeitar a singularidade dos outros e sempre cairemos no excesso, quando não aceitarmos nosso ritmo de crescimento bem como o do próximo.

Segundo Alfred Adler, a “compensação” é um dos métodos de defesa do ego e consiste num fenômeno psicológico que busca contrabalançar e dissimular nossas tendências inconscientes por nós consideradas reprováveis e que tentam vir à nossa consciência.

Os excessos de todo o gênero funcionam, na maioria das vezes, como disfarce psicológico para compensar nossas tendências interiores. Exageramos posturas e inclinações na tentativa de simular um caráter oposto.

Atitudes exageradas de um indivíduo significam, quase sempre, o contrário do que ela declara.

Excesso de pudor – compensação de desejos sexuais normais reprimidos.

Excesso de afabilidade – compensação de agressividade mal elaborada.

Excesso de alimentação – compensação de insegurança ou necessidade de proteção.

Excesso de religião – compensação de dúvidas desmoralizadoras existentes na consciência.

Excesso de dominação – compensação de fragilidade e desamparo interior.

Através de todo excesso ou rigidez se encontra a não aceitação da naturalidade da vida, fora e dentro de nós mesmos.
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As Dores da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto
Ditado pelo Espírito Hammed
Páginas 137, 138 e 139

09 abril 2010

Post 28 - Servir e Marchar


“Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados.” 
 Paulo [Hebreus, 12:12]

Se é difícil a produção de fruto sadio na lavoura comum, para que não falte o pão do corpo aos celeiros do mundo, é quase sacrificial o serviço de aquisição dos valores espirituais que significam o alimento vivo e imperecível da alma.

Planta-se a semente da boa vontade, mas obstáculos mil lhe prejudicam a germinação e o crescimento.

É a aluvião de futilidades da vida inferior.

A invasão de vermes simbolizados nos aborrecimentos de toda sorte.

A lama da inveja e do despeito.

As trovoadas da incompreensão.

Os granizos da maldade.

Os detritos da calúnia.

A canícula da responsabilidade.

O frio da indiferença.

A secura do desentendimento.

O escalracho da ignorância.

As nuvens das preocupações.

A poeira do desencanto.

Todas as forças imponderáveis da experiência humana como que se conjugam contra aquele que deseja avançar no roteiro do bem.

Enquanto não alcançarmos a herança divina a que somos destinados, qualquer descida é sempre fácil...

A elevação, porém, é obra de suor, persistência e sacrifício.

Não recues diante da luta, se realmente já podes interessar o coração nos climas superiores da vida.

Não obstante defrontado por toda espécie de dificuldades, segue para a frente, oferecendo ao serviço da perfeição quanto possuas de nobre, belo e útil.

Recorda o conselho de Paulo e não te imobilizes.

Movimenta as mãos cansadas para o trabalho e ergue os joelhos desconjuntados, na certeza de que para a obtenção da melhor parte da vida é preciso servir e marchar, incessantemente.
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Fonte Viva - Francisco Cândido Xavier
Pelo Espírito Emmanuel
Capítulo 52 - Páginas 121 e 122.

Post 27 - A Afabilidade e A Doçura


A benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são a manifestação. Entretanto, não é preciso fiar-se sempre nas aparências; a educação e o hábito do mundo podem dar o verniz dessas qualidades.

Quantos há cuja fingida bonomia não é senão máscara para o exterior, uma roupagem cuja forma premeditada esconde deformidades ocultas! O mundo está cheio dessas pessoas que têm o sorriso nos lábios e o veneno no coração; que são brandas contanto que nada as machuque, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua dourada, quando falam face a face, se transmuta em dardo venenoso, quando estão por detrás.

A essa classe pertencem ainda esses homens benignos por fora e que, tiranos domésticos, fazem sofrer, sua família e seus subordinados, o peso do seu orgulho e de seu despotismo, como querendo-se compensar do constrangimento que se impuseram alhures; não se atrevendo a usar a autoridade sobre estranhos que os recolocariam em seu lugar, eles querem ao menos ser temidos por aqueles que não podem resistir-lhes; sua vaidade alegra-se de poder dizer: “Aqui eu mando e sou obedecido”, sem pensar que poderiam acrescentar com mais razão: “E sou detestado”.

Não basta que os lábios gotejem leite e mel, pois se o coração nada tem com isso, há hipocrisia.

Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas, nunca se contradiz; é o mesmo diante do mundo e na intimidade; ele sabe, aliás, que se pode enganar os homens, pelas aparências, não pode enganar a Deus.

[Lázaro, Paris, 1861]
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O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
Bem Aventurados Aqueles Que São Brandos e Pacíficos
Capítulo IX - Páginas 126 e 127.

08 abril 2010

Post 26 - INSEGURANÇA


Os inseguros omitem defesa a seus direitos pessoais por medo e evitam encontros ou situações em que precisam expor suas crenças, sentimentos e idéias.

A insegurança traz como características psicológicas os mais variados tipos de medo, como o de amar, o da mudança, o de cometer erros, o da solidão, o de se pronunciar e o de se desobrigar. O inseguro não confia no seu valor pessoal, desacredita suas habilidades e desconfia de sua possibilidade de enfrentar as ocorrências da vida, o que o impulsiona a uma fatal tendência de se apoiar nos outros.

Por não compreender bem seu poder interior, apega-se na afeição do cônjuge, filhos, outros parentes e amigos e, assim, acaba dependendo completamente dessas pessoas para viver. Em vez de amor, é a insegurança a fonte principal que o une aos outros; por isso, controla e vigia em razão das dúvidas que tem sobre si mesmo.

O inseguro, por não saber que não pode controlar os atos e atitudes das outras criaturas, cria grandes dificuldades em seus relacionamentos, gerando, conseqüentemente, maiores cobranças e barreiras entre eles.

A hesitação torna-o criatura incapaz de se sentir bastante firme para agir. Nunca possui certeza suficiente e quer sempre mais se certificar das coisas. É excessivamente cauteloso e vigilante; está em constante sobreaviso e desconfiança de tudo e de todos, por causa do medo das conseqüências futuras de suas ações no presente.

Os inseguros desenvolvem muitas vezes uma “devoção mórbida” em relação às causas e aos ideais, ou se associam a um parceiro forte e dinâmico para compensar sua necessidade de apoio, consideração e segurança. No primeiro caso, eles podem assumir diante do mundo a posição de “crentes exaltados”, querendo convencer todos de uma verdade que eles mesmos não acreditam; no segundo, buscam alguém que lhes corresponda ao modelo de seus genitores, para que, novamente, venham a se nutrir da autoridade, decisão e firmeza que encontravam nos pais, quando crianças.

Muitos ainda buscam refúgio numa atividade intelectual e se colocam, por exemplo, na posição de autoridade literária, como estratégia emocional, a fim de estimular em torno de si uma atmosfera de “bem informados” e, portanto, grandiosos e seguros.

Kardec, Discípulo de Jesus, pergunta aos Instrutores Espirituais:

“Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento?”

A Espiritualidade elaborou a seguinte resposta:

“Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente do que todos os sofrimentos físicos.”

“Angústias Morais” podem ser entendidas como a fragilidade em que se encontram as criaturas inseguras, a sensação de mal-estar que sentem, por acreditarem que estão constantemente sendo observadas e julgadas e também pela perpétua situação mental de vulnerabilidade diante do mundo.

Os inseguros não são assertivos; em outras palavras, não se expressam de modo direto, claro e honesto. Omitem defesa a seus direitos pessoais por medo e evitam encontros ou situações em que precisam expor suas crenças, sentimentos e idéias.

O título de “Senhor de Si Mesmo” poderá definir bem a segurança e firmeza de Jesus Cristo. Suas palavras “Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não” ainda hoje ressoam, convidando todas as criaturas à autonomia espiritual. Realmente o comportamento assertivo do Mestre e sua significativa liberdade de expressão revelavam:

- firmeza em dizer o que pensava;
- segurança de olhar, ouvir e convidar qualquer um;
- Independência de exprimir seus sentimentos com absoluta transparência;
- Liberdade de pedir o que quisesse;
- coragem de correr riscos para concretizar tudo aquilo em que acreditava.

Essas lágrimas os inseguros não sentem. Seguindo, porém, os passos de Jesus, Nosso Guia e Senhor, a humanidade alcançará a estabilidade serena interior que busca há tantos séculos
– conquista dos seres despertos e amadurecidos do futuro.
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As Dores da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto
Ditado por Hammed
Páginas 171, 172 e 173.

07 abril 2010

Post 25 - Anjos Guardiães, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos


489 – Há Espíritos que se ligam a um indivíduo em particular para protegê-lo?

- Sim, o irmão espiritual, a que chamais o bom Espírito ou o bom gênio.

490 – Que se deve entender por anjo guardião?

- O Espírito protetor de uma ordem elevada.

491 – Qual é a missão do Espírito protetor?

- A de um pai sobre os seus filhos: guiar seu protegido no bom caminho; ajudá-lo com seus conselhos, consolar suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.

492 – O Espírito protetor liga-se ao indivíduo depois do seu nascimento?

- Depois do seu nascimento até a morte, e, freqüentemente, o segue depois da morte na vida espírita, e mesmo em várias existências corporais, porque essas existências são apenas fases bem curtas com relação à vida do Espírito.

493 – A missão do Espírito protetor é voluntária ou obrigatória?

- O Espírito protetor é obrigado a velar sobre vós porque aceitou essa tarefa, mas pode escolher os seres que lhe são simpáticos. Para alguns é um prazer, para outros uma missão ou um dever.

- Ligando-se a uma pessoa, o Espírito renuncia a proteger outros indivíduos?

- Não, mas o faz menos exclusivamente.

494 – O Espírito protetor está fatalmente ligado ao ser confiado à sua guarda?

- Ocorre, freqüentemente, que certos Espíritos deixam sua posição para executar certas missões; mas, então, são substituídos.

495 – O Espírito protetor abandona algumas vezes seu protegido quando este é rebelde aos seus conselhos?

- Ele se afasta quando vê seus conselhos inúteis, e que a vontade de sofrer a influência dos Espíritos inferiores é mais forte. Todavia, não o abandona completamente, e se faz sempre ouvir sendo, então, o homem quem fecha os ouvidos. Ele retorna, desde que chamado.

"É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos pelo seu encanto e pela sua doçura: a dos anjos guardiães. Pensar que se tem sempre perto de si seres que vos são superiores, que estão sempre aí para vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são os amigos mais seguros e mais devotados do que as mais íntimas ligações que se possa contrair sobre esta Terra, não é uma idéia bem consoladora?

"Esses seres aí estão por ordem de Deus; ele os colocou junto de vós e aí estão, por seu amor, cumprindo uma bela, mas penosa missão. Sim, onde estejais ele estará convosco: as prisões, os hospitais, os lugares de devassidão, a solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.

"Deveríeis conhecer melhor esta verdade! Quantas vezes ela vos ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes ela vos salvaria dos maus Espíritos! Todavia, no grande dia, este anjo de bondade terá freqüentemente de vos dizer: Não te disse isto? E não o fizeste; não te mostrei o abismo? E aí te precipitaste; não te fiz ouvir na consciência a voz da verdade? E não seguiste os conselhos da mentira?

"Ah! Interrogai vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em esconder-lhes nada, porque eles têm os olhos de Deus, e não podeis enganá-los. Sonhai com o futuro; procurai avançar nesta vida e vossas provas serão mais curtas, vossas existências mais felizes.

"Caminhai! Homens de coragem; atirai para longe de vós, de uma vez por todas, preconceitos e idéias preconcebidas; entrai na nova estrada que se abre diante de vós; marchai! Marchai! Tendes orientadores, segui-os: o objetivo não vos pode faltar, porque esse objetivo é Deus.

"Àqueles que pensem ser impossível aos Espíritos verdadeiramente elevados, se sujeitarem a uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas estando a vários milhões de léguas de vós. Para nós o espaço é nada, e vivendo em outro mundo, nossos Espíritos conservam sua ligação com o vosso.

"Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas estejais certos de que Deus não nos impôs uma tarefa acima de nossas forças e que ele não vos abandonou sós sobre a Terra, sem amigos e sem apoio. Cada anjo guardião tem seu protegido sobre o qual vela, como um pai vela sobre seu filho, e é feliz quando o vê no bom caminho, e sofre quando seus conselhos são menosprezados.

"Não temais em nos fatigar com vossas perguntas; estejais, ao contrário, sempre em relação conosco: sereis mais fortes e felizes. São essas comunicações de cada homem com seu Espírito familiar que fazem todos os homens médiuns, médiuns hoje ignorados, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão como um oceano sem limites para repelir a incredulidade e a ignorância.

"Homens instruídos, instruí; homens de talento, elevai vossos irmãos. Não sabeis que obra cumprireis assim: a do Cristo, a que Deus vos impôs. Para que Deus vos deu a inteligência e a ciência, senão para repartir com vossos irmãos, para adiantá-los no caminho da alegria e da felicidade eterna."
[São Luís, Santo Agostinho]
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O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal
Livro II - Capítulo IX - Páginas 216, 217 e 218 

04 abril 2010

Post 24 - Desigualdade das Riquezas


8. A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se procura em vão resolver, se considerarmos apenas a vida atual.

A primeira questão que se apresenta é esta:
Por que todos os homens não são igualmente ricos?

Não o são por uma razão muito simples:
É que eles não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar.

Aliás, é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna, igualmente repartida, daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente; que, supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade de caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, isso seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem estar da humanidade; que, supondo-se que ela desse a cada um o necessário, não haveria mais o aguilhão que compele às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis.

Se Deus a concentra em certos pontos, é porque daí ela se derrama em quantidade suficiente segundo as necessidades.

Admitindo isso, pergunta-se por que Deus a dá a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos.

 Aí ainda está a prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando ao homem o livre arbítrio, quis que ele alcançasse, por sua própria experiência, a distinção do bem e do mal, e que a pratica do bem fosse o resultado dos seus esforços e da sua própria vontade.

Ele não deve ser conduzido fatalmente, nem ao bem nem ao mal, sem o que não seria senão instrumento passivo e irresponsável, como os animais. A fortuna é um meio de prová-lo moralmente; mas como, ao mesmo tempo, é um poderoso meio de ação para o progresso, Deus não quer que ela fique muito tempo improdutiva e, por isso, a desloca incessantemente.

Cada um deve possuí-la para experimentar servir-se dela, e provar o uso que dela sabe fazer; mas como há a impossibilidade material de que todos a tenham ao mesmo tempo; que, aliás, se todo mundo a possuísse, ninguém trabalharia e o aprimoramento do globo com isso sofreria, cada um a possui a seu turno: quem não a tem hoje, já a teve ou terá numa outra existência, e quem a tem agora, poderá não tê-la mais amanhã.

Há ricos e pobres porque Deus, sendo justo, cada um deve trabalhar a seu turno; a pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a riqueza é para outros a prova da caridade e da abnegação.

Deplora-se com razão o lamentável uso que certas pessoas fazem de sua fortuna, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, e se pergunta se Deus é justo em dar a riqueza a tais pessoas. É certo que se o homem não tivesse senão uma só existência, nada justificaria essa repartição dos bens da Terra, mas se, em lugar de limitar a visão à vida presente, considerar-se o conjunto das existências, vê-se que tudo se equilibra com justiça.

O pobre, pois, não tem mais motivo para acusar a Providência, nem para invejar os ricos, e os ricos não têm mais do que glorificar pelo que possuem. Se dela abusam, não será nem com os decretos, nem com as leis suntuárias, que se remediará o mal; as leis podem, momentaneamente, mudar o exterior, mas não podem mudar o coração; por isso, elas não têm senão uma duração temporária e são sempre seguidas de uma reação mais desenfreada.

A fonte do mal está no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie cessarão por si mesmos quando os homens se regerem pela lei da caridade.
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O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
Não se pode servir a Deus e a Mamon
Capítulo XVI - Páginas 210 e 211

Post 23 - Reencarnações


33. - O princípio da reencarnação é uma conseqüência necessária da lei do progresso. Sem a reencarnação como explicar a diferença que existe entre o estado social atual e o dos tempos de barbárie?

Se as almas são criadas ao mesmo tempo que o corpo, as que nascem hoje são também todas novas, tão primitivas como aquelas que viviam há mil anos; acrescentemos que não haveria, entre elas, nenhuma conexão, nenhuma relação necessária; que seriam completamente independentes umas das outras; por que, pois, as almas de hoje seriam mais bem dotadas por Deus do que as suas predecessoras? Por que compreendem melhor? Por que têm instintos mais depurados, costumes mais doce? Por que têm intuição de certas coisas sem havê-las aprendido?

Desafiamos a sair daí, a menos que se admita que Deus criou almas de diversas qualidades, segundo os tempos e os lugares, proposição inconciliável com a idéia de uma soberana justiça.

Dizei, ao contrário, que as almas de hoje já viveram em tempos recuados; que puderam ser bárbaras como o seu século, mas que progrediram; que a cada nova existência elas trazem o que adquiriram em existências anteriores; que, conseqüentemente as almas dos tempos civilizados são almas não criadas mais perfeitas, mas que se aperfeiçoaram, elas mesmas, com o tempo, e tereis a única explicação plausível da causa do progresso social.

34. - Algumas pessoas pensam que as diferentes existências da alma se cumprem de mundo a mundo, e não sobre um mesmo globo, onde cada Espírito não aparece senão uma única vez.

Essa doutrina seria admissível, se todos os habitantes da Terra estivessem no mesmo nível intelectual e moral; não poderiam então progredir senão indo para outro mundo, e sua reencarnação sobre a Terra seria inútil; ora, Deus não faz nada inútil. Desde o instante em que ali se encontre todos os graus de inteligência e de moralidade, desde a selvageria que ladeiam o animal até a mais avançada civilização, ela oferece um campo vasto de progresso; perguntar-se-ia por que o selvagem será obrigado a procurar alhures o grau acima dele, quando o encontra a seu lado, e assim de passo em passo; por que o homem avançado não pudera fazer suas primeiras etapas senão em mundos inferiores, então que os análogos de todos esses mundos estão ao seu redor, que há diferentes graus de adiantamento, não somente de povo a povo, mas no mesmo povo e na mesma família?

Se assim fora, Deus teria feito alguma coisa de inútil, colocando lado a lado o ignorante e o sábio, a barbárie e a civilização, o bem e o mal, ao passo que é precisamente esse contato que faz os retardatários avançarem?

Não há, pois, mais necessidade de que esses homens mudem de mundo em cada etapa, como não há para algum estudante mudar de colégio em cada classe; longe disso ser uma vantagem para o progresso, seria um entrave, porque o Espírito estaria privado do exemplo que lhe oferece a visão dos graus superiores, e a possibilidade de reparar seus erros no meio e sob o olhar daqueles que ofendeu, possibilidade que é, para ele, o mais poderoso meio de avanço moral. Depois de uma curta coabitação, os Espíritos se dispersam e se tornam estranhos uns aos outros, os laços de família e de amizade, não tendo o tempo de se consolidarem, romper-se-iam.

Ao inconveniente moral se juntaria um inconveniente material. A natureza dos elementos, as leis orgânicas, as condições de existência, variam segundo os mundos; sob esse aspecto, não há dois mundos que sejam perfeitamente idênticos. Nossos tratados de física, de química, de anatomia, de medicina, de botânica, etc. para nada serviriam nos outros mundos, e, todavia, o que aqui se aprende não está perdido; não só isso desenvolve a inteligência, mas as idéias que se haurem ajudam a adquirir outras novas.

Se o espírito não fizesse senão uma aparição, freqüentemente de curta duração, no mesmo mundo, a cada migração, encontrar-se-ia em condições todas diferentes; operaria, cada vez, sobre elementos novos, com forças e segundo leis desconhecidas para ele, antes que tivesse tempo de elaborar os elementos conhecidos, de estudá-los, de exercê-los. Isso seria, cada vez, uma nova aprendizagem a fazer, e essas mudanças incessantes seriam um obstáculo ao seu progresso.

O Espírito deve, pois, permanecer sobre o mesmo mundo até que haja adquirido a soma de conhecimentos e o grau de perfeição que esse mundo comporta.

Que os Espíritos deixem, por um mundo mais avançado, aquele sobre o qual nada podem mais adquirir, isso deve sê-lo e isso é; tal é o princípio. Se há os que deixam antes, sem dúvida, é por causas individuais que Deus pesa em sua sabedoria.

Tudo tem um objetivo na criação, sem o que Deus não seria nem prudente, nem sábio; ora, se a Terra não deve ser senão uma única etapa para o progresso de cada indivíduo, que utilidade haveria para as crianças que morrem na tenra idade, o virem passar aqui alguns anos, alguns meses, algumas horas, durante os quais nada podem adquirir? Ocorre o mesmo para os que sofrem de disturbios mentais.

Uma teoria não é boa senão com a condição de resolver todas as questões que se lhe ligam.

A questão das mortes prematuras tem sido uma pedra de tropeço para todas as doutrinas, exceto para a Doutrina Espírita, a única que a resolveu de modo racional e completo.

Para aqueles que perfazem sobre a Terra uma carreira normal, há, para o seu progresso, uma vantagem real em se encontrar no próprio meio, para aí continuar o que deixou inacabado, freqüentemente, na mesma família ou em contato com as mesmas pessoas, para reparar o mal que pôde fazer, ou para sofrer-lhe a pena de talião.
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A Gênese - Allan Kardec
Gênese Espiritual - Reencarnações
Capítulo XI - Páginas 193, 194 e 195

02 abril 2010

Post 22 - Max, o mendigo


Numa cidade da Baviera morreu, por volta de 1850, um velho quase centenário, conhecido sob o nome de Max. Ninguém conhecia direito a sua origem, porque ele não tinha família. Há quase meio século, acabrunhado por enfermidades que o punham fora do estado de ganhar sua vida pelo trabalho, não tinha outros recursos que a caridade pública, que dissimulava vendendo, nas fazendas e nos castelos, almanaques e pequenos objetos.

Foi lhe dada à alcunha de conde Max, e as crianças o chamavam nunca senão senhor conde, do que ele sorria sem melindrar-se. Por que esse título? Ninguém poderia dizê-lo; passou a ser hábito. Talvez fosse por causa de sua fisionomia e de suas maneiras, cuja distinção contrastava com os andrajos.

Vários anos depois de sua morte, apareceu em sonho à filha do proprietário de um dos castelos, onde recebia a hospitalidade na estrebaria, porque não havia domicílio para ele. Disse-lhe: “Obrigado a vós terdes lembrado do pobre Max em vossas preces, porque elas foram ouvidas pelo Senhor. Desejais saber quem sou, alma caridosa que vos interessastes pelo infeliz mendigo; vou satisfazer-vos; isso será para todos uma grande instrução.”

Ele fez então, o relato seguinte, aproximadamente nestes termos:

“Há um século e meio mais ou menos, eu era um rico e poderoso senhor deste país, mas vão, orgulhoso e enfatuado pela minha nobreza; a minha imensa fortuna nunca serviu senão aos meus prazeres, e a isso apenas ela bastava, porque eu era jogador, libertino e passava a minha vida nas orgias.

"Meus vassalos, que acreditava criados para o meu uso, como animais da fazenda, eram pressionados e maltratados, para proverem as minhas prodigalidades. Permanecia surdo aos seus lamentos como aos de todos os infelizes, e, segundo eu, eles deveriam se sentir muito honrados por servirem os meus caprichos.

"Morri com uma idade pouco avançada, esgotado pelos excessos, mas sem que provasse nenhuma felicidade verdadeira; ao contrário, tudo parecia sorrir-me, de modo que eu era, aos olhos de todos, um dos felizes do mundo: a minha posição valeu-me suntuosos funerais, os boêmios lamentavam em mim o faustoso senhor, mas nenhuma lágrima foi vertida sobre a minha tumba, nem uma prece do coração foi dirigida a Deus por mim, e a minha memória foi amaldiçoada por todos aqueles dos quais aumentara a miséria.

"Ah! Quanto é terrível a maldição dos infelizes que se fez! Ela não cessou de retinir nos meus ouvidos durante longos anos que me pareceram uma eternidade! E, na morte de cada uma das minhas vítimas, era um novo rosto ameaçador ou irônico que se erguia diante de mim e me perseguia sem descanso, sem que pudesse encontrar um canto escuro para subtrair-me à sua visão! Nenhum olhar amigo! Meus antigos companheiros de deboche, infelizes como eu, fugiam de mim e pareciam dizer-me com desdém:

- Não podes mais pagar os nossos prazeres.

"Oh! Quanto teria pago muito caro um instante de repouso, um copo de água para estancar a sede ardente que me devorava! Mas eu não possuía mais nada, e todo o ouro que semeei, a mãos cheias, sobre a Terra não produzira uma única benção, nem uma só, entendeis, minha filha?

“Enfim, oprimido pela fadiga, esgotado como viajor esfalfado que não vê o fim de seu caminho, exclamei:

“Meu Deus, tende piedade de mim! Quando pois terminará esta horrível situação?

”Então uma voz, a primeira que eu ouvia desde que deixara a Terra, disse-me:

- Quando tu quiseres.

"Que é necessário fazer, grande Deus! Respondi eu; dizei: me submeterei a tudo.

 - É necessário o arrependimento; humilhar-se diante daqueles que humilhastes; pedir-lhes para que intercedam por ti, porque a prece do ofendido que perdoa é sempre agradável ao Senhor.

“Eu me humilhei, pedi aos meus vassalos, meus servidores, que estavam ali diante de mim, e cujos rostos, de mais em mais benevolentes, acabam por desaparecer. Isto foi, então, para mim como uma nova vida; a esperança substituiu o desespero e agradeci a Deus com todas as forças de minha alma. A voz me disse em seguida:

- Príncipe!

" E eu respondi:
“Não há outro príncipe senão o Deus Todo-poderoso que humilha os soberbos. Perdoai-me, Senhor, porque eu pequei; fazei de mim o servidor de meus servidores, se tal é na vossa vontade.

“Alguns anos mais tarde, nasci de novo, mas desta vez numa família de pobres camponeses. Meus pais morreram quando eu era ainda criança, e permaneci só no mundo e sem apoio. Ganhei minha vida como pude, ora como operário, ora como empregado de fazenda, mas sempre honestamente, porque eu acreditava em Deus desta vez.

"Com a idade de quarenta anos, uma doença tornou-me paralítico de todos os membros, e me foi necessário mendigar, durante mais de cinqüenta anos, sobre essas mesmas terras das quais fora o senhor absoluto; receber um pedaço de pão nas fazendas que possuíra, onde, por uma amarga zombaria, alcunharam-me senhor conde, freqüentemente, muito feliz por encontrar um abrigo na estrebaria do castelo que fora o meu.

"No meu sonho, agradava-me percorrer esse mesmo castelo onde fora déspota; quantas vezes, em meus sonhos revi-me ali no meio de minha antiga fortuna! Essas visões me deixavam, ao despertar, um indefinível sentimento de amargura e de desgostos; mas nunca uma queixa escapou da minha boca; e quando aprouve a Deus chamar-me para ele, eu o bendisse por ter me dado a coragem de suportar, sem murmúrio, essa longa e penosa prova da qual recebo, hoje, a recompensa, e vós, minha filha, eu vos bendigo por terdes orado por mim.”
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O Céu e o Inferno - Allan kardec
Expiações Terrestres
Capítulo VIII - Páginas 340, 341, 342 e 343.

01 abril 2010

Post 21 - CULPA


Viver em paz com nossa experiência sexual atual, valorizando nosso aprendizado e, em tempo algum, culpar-nos ou atribuir culpa a alguém.

A sexualidade é a área em que a culpa mais floresce na sociedade. Como pouco sabemos sobre ela, ficamos praticamente confinados às idéias e opiniões alheias. Nossa limitação na compreensão dos outros seres humanos se deve ao pouco ou quase nada que sabemos sobre nós mesmos, ou seja, ao desconhecimento de nossa sexualidade. Por isso é que temos dificuldade de admitir a diversidade de sentimentos e emoções afetivas e sexuais.

Confundimos constantemente nossa habilidade para o sexo com a nossa capacidade sexual. Por acreditarmos saber distinguir a diferença biológica entre o macho e a fêmea, julgamos conhecer tudo sobre o conjunto de fenômenos sexuais que se podem observar nos seres vivos.

Na atualidade, as crianças são introduzidas prematuramente na esfera dos adultos por inúmeras revistas, filmes, cartazes, fotografias e pela publicidade da televisão e do rádio, o que lhes provoca a malícia numa idade desprovida da lógica e do bom senso contra essa espécie de afronta sexual.

Desde cedo, os ensinamentos de valores éticos e morais deverão ser ministrados aos menores, para que eles possam absorver, inconscientemente, através dos gestos, atos, idéias e palavras dos pais, tudo o de que necessitam para formar um padrão normal psicossexual e emocional.

Orientar, a nosso ver, não é a mesma coisa que educar. A educação sexual é assimilada, basicamente, na experiência de vida no lar; traz a marca ou o caráter distintivo e particular dos pais. Já a orientação sexual engloba métodos de ensino, informação e notícias transmitidas e/ou aplicadas à criança pelos parentes, religiosos, professores, psicólogos, médicos e outros profissionais especializados.

Ainda que os pais não tenham fornecido, intencionalmente, educação sexual aos filhos, mesmo assim as crianças formaram hábitos, conceitos e idéias sobre o sexo, absorvidos no dia-a-dia da vida familiar nos mais diversos exemplos que recolheram dos atos e crenças dos adultos.

Noções, crendices, preconceitos e concepções já existem nas crianças, pois são frutos de suas existências pretéritas. Além disso, somam-se à sua “bagagem espiritual” as ocorrências e aprendizagem da vida atual. É importante, no entanto, para desenvolver adultos maduros e ajustados psicossexualmente , fundamentar o ensino da orientação sexual sobre métodos pedagógicos e psicológicos de cunho reencarnacionista, pelos quais os menores são observados como almas milenares e educados sob uma atmosfera de vida eterna.

Em certas circunstâncias evolutivas, encarnamos como homem; em outras, como mulher. E, ainda, em determinadas oportunidades de aprendizagem e de renovação, o espírito pode vir ocupar uma vestimenta corporal oposta à tendência íntima que vivencia. O fenômeno é análogo ao que se refere à área masculina tanto quanto a feminina. Independentemente da forma de sexualidade que estamos vivenciando no presente, procuremos aceitá-la em plenitude, visto que há sempre, em qualquer condição, a oportunidade de adquirirmos experiências e, por conseqüência, progredirmos espiritualmente, vencendo desafios e promovendo realizações.

“(...) o mal depende principalmente da vontade que se tenha de praticá-lo. O bem é sempre o bem e o mal é sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau de responsabilidade.”

Não podemos nos esquecer de que “grau de responsabilidade” deve ser sempre coerente com a estrada evolucional por onde transitam as almas. Portanto, os indivíduos responderão adequadamente por seus atos e atitudes e serão responsáveis somente por aquilo que conhecem, não pelo que ignoram.

Devemos sim, viver em paz com nossa experiência sexual atual, valorizando nosso aprendizado e, em tempo algum, culpar-nos ou atribuir culpa a alguém.

Todos os seres humanos são regidos pela “Lei das Vidas Sucessivas”. Cada um de nós está vivendo um aprendizado particular e único em todos os aspectos e, obviamente, também na área sexual. Efetivamente, existem tantos níveis de entendimento e amadurecimento sexuais quantos indivíduos que os possuem.

Não podemos determinar exatamente a extensão das dificuldades e das carências de conhecimento e discernimento de uma criatura em seu desenvolvimento afetivo. Mesmo porque estamos na Terra a fim de aprender e é através de nossos acertos e desacertos que ficaremos sabendo como agir corretamente nas experiências subseqüentes.

Podemos julgar a promiscuidade sexual, moralmente errada, mas não podemos julgar o indivíduo promíscuo por desconhecermos sua necessidade evolutiva e seu “coeficiente de maturidade”.

Na fisiologia, o denominado “ponto cego” é um local no campo de visão em que não há células sensíveis à luz. É nesse ponto que as fibras nervosas da retina convergem para formar o nervo óptico, que transmite os sinais nervosos ao cérebro para a decifração em imagens visuais. Transportando o significado desse termo fisiológico “ponto cego” para a área psicológica, poderemos fazer uma analogia entre esta lacuna em nosso campo visual com nossa falta de visão íntima para ver as coisas como realmente são. Nossos “pontos cegos” interiores se prendem à nossa inexperiência e à nossa incapacidade evolutiva.

Querer ser iguais aos outros e nos comparar sexualmente indicam ausência de peças importantes em nossa consciência profunda, o que nos torna incapacitados para perceber a extensão das Leis Divinas que regem a todos nós.
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As Dores Da Alma – Francisco do Espírito Santo Neto
Ditado por Hammed
Culpa – Páginas 107, 108, 109 e 110.

31 março 2010

Post 20 - A Cólera


O orgulho leva a vos crer mais do que sois; a não poder sofrer uma comparação que possa vos rebaixar; a considerar, ao contrário, de tal modo acima dos vossos irmãos, seja como espírito, seja como posição social, seja mesmo como superioridade pessoal, que o menor paralelo vos irrita e vos fere; e o que ocorre então? Entregai-vos à cólera.

Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos animais, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; procurai e encontrareis, quase sempre, por base, o orgulho ferido. Não é orgulho ferido, por uma contradição, que vos faz rejeitar as observações justas, que vos faz repelir com cólera os mais sábios conselhos? As próprias impaciências que causam as contrariedades, freqüentemente pueris, prendem-se à importância que se atribui à própria personalidade diante da qual se crê que tudo deve se dobrar.

Em seu frenesi, o homem colérico ataca a tudo; a natureza bruta, os objetos inanimados, que quebra, porque não lhe obedecem. Ah! Se nesses momentos pudesse se ver com sangue-frio, teria medo de si, ou se acharia ridículo! Que julgue por aí a impressão que deve produzir sobre os outros. Quando não fosse senão por respeito a si mesmo, deveria esforçar-se por vencer uma tendência que faz dele objeto de piedade.

Se imaginasse que a cólera não resolve nada, altera a saúde, compromete-lhe a vida, veria que é sua primeira vítima; mas uma outra consideração deveria, sobretudo, detê-lo: o pensamento de que torna infeliz todos aqueles que o cercam; se tem coração, não terá remorso em fazer sofrer os seres que mais ama? E que desgosto mortal se, num acesso desatinado, cometesse um ato de que tivesse que se censurar por toda a sua vida!

Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede de fazer muito bem, e pode levar a fazer muito mal; isso deve bastar para motivar os esforços por dominá-la. O espírita, por outro lado, é solicitado por um outro motivo: a cólera é contrária à caridade e à humildade cristã.

(Um Espírito Protetor, Bordéus, 1863)
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Segundo a idéia muito falsa de que não pode reformar sua própria natureza, o homem se crê dispensado de esforçar-se para se corrigir dos defeitos, nos quais se compraz voluntariamente ou que exigiriam muita perseverança; é assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa, quase sempre, com o seu temperamento; antes de se considerar culpado, ele reputa a falta ao seu organismo, acusando, assim, Deus de suas próprias faltas. É ainda uma conseqüência do orgulho, que se encontra misturado a todas as suas imperfeições.

Sem contradita, há temperamentos que se prestam mais que outros, aos atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor para os torneios de força; mas não creais que aí esteja a causa primeira da cólera, e estejais persuadidos de que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico; e que um Espírito violento, num corpo linfático, por isso não será mais brando; somente a violência tomará um outro caráter: não havendo um organismo próprio para secundar sua violência, a cólera será concentrada, e no outro caso será expansiva.

O corpo não dá cólera àquele que não a tem, como não dá os outros vícios; todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito; sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é disforme não pode se tornar direito porque o Espírito nada tem com isso, mas pode modificar o que é do Espírito quando tem uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que vedes se operar? Dizei-vos pois, que o homem não permanece vicioso senão porque quer permanecer vicioso; mas aquele que quer se corrigir sempre o pode, de outra forma a lei do progresso não existiria para o homem.

(Hahnemann, Paris, 1863)
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O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec
A Cólera
Capítulo IX – Páginas 129 e 130

29 março 2010

Post 19 - Lei da Reprodução


População do Globo

686 – A reprodução dos seres vivos é uma lei da Natureza?

- Isso é evidente; sem a reprodução o mundo corporal pereceria.

687 – Se a população seguir sempre a progressão crescente que vemos, chegará um momento em que ela será exuberante sobre a Terra?

- Não. Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio. Ele nada faz de inútil. O homem que não vê senão um canto do quadro da Natureza, não pode julgar a harmonia do conjunto.


Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças

688 – Há, neste momento, raças humanas que diminuem evidentemente; chegará um momento em que elas terão desaparecido da Terra?

- É verdade, mas é que outras tomaram seu lugar, como outras tomarão o vosso um dia.

689 – Os homens atuais são uma nova criação ou os descendentes aperfeiçoados dos seres primitivos?

- São os mesmos Espíritos que estão voltando para se aperfeiçoarem em novos corpos, mas que estão ainda longe da perfeição. Assim, a raça humana atual que, pela sua argumentação, tende a invadir a Terra e substituir as raças que se extinguem, terá seu período de decrescimento e de desaparecimento. Outras raças mais aperfeiçoadas a substituirão, descendendo da raça atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.

690 – Sob o ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual são uma criação especial ou procedem dos corpos primitivos por via de reprodução?

- A origem das raças se perde na noite dos tempos, mas como pertencem todas à grande família humana, qualquer que seja a estirpe primitiva de cada uma, elas puderam se misturar entre si e produzir novos tipos.

691 – Qual é, do ponto de vista físico, o caráter distintivo e dominante das raças primitivas?

- Desenvolvimento da força bruta em detrimento da força intelectual. Atualmente é ao contrário: o homem faz mais pela inteligência que pela força do corpo e, portanto, faz cem vezes mais porque soube tirar proveito das forças da Natureza, o que não fazem os animais.

692 – O aperfeiçoamento das raças animais e vegetais, pela ciência, é contrário a lei natural? Seria mais conforme com essa lei deixar as coisas seguirem seu curso normal?

- Deve-se fazer tudo para alcançar a perfeição, e o próprio homem é um instrumento do qual Deus se serve para alcançar seus fins. A perfeição, sendo o objetivo para o qual tende a Natureza, favorecê-la é corresponder a essa finalidade.

- Mas o homem, geralmente, não se esforça pelo melhoramento das raças, senão por um sentimento pessoal e não tem outro objetivo senão o aumento de seus prazeres; isso diminui o mérito?

- Que importa que seu mérito seja nulo, contando que o progresso se faça? Está nele tornar seu trabalho meritório pela intenção. Aliás, pelo seu trabalho, exercita e desenvolve sua inteligência, e é sob esse aspecto que ele mais aproveita.
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O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
III - Lei da Reprodução
Capítulo IV - Páginas 278 e 279.

27 março 2010

Post 18 - A Solidão


Ouçamos com os ouvidos internos, pois ninguém pode
assimilar bem uma experiência que não provenha de sua
própria orientação interior.

Segundo Pascal, o grande pensador científico-filosófico do século XVII, “a verdadeira natureza do homem, seu verdadeiro bem, sua verdadeira virtude e a verdadeira religião são coisas cujo conhecimento é inseparável.”

Nem sempre a solidão pode ser encarada como dor ou insânia. É, em muitas ocasiões, períodos de preparação, tempos de crescimento, convites da vida ao amadurecimento. De acordo com o pensamento de Pascal, o âmago do ser está intimamente ligado ao bem, à virtude e à religião. É justamente nas “épocas de solidão” que conseguimos a motivação necessária para estabelecer a verdade sobre esse fato.

Na solidão, é que encontramos sanidade para nosso mundo interior, respostas seguras para nossos caminhos incertos e nutrição vitalizante para os labores que enfrentamos em nossa viagem terrena. Nestes nossos apontamentos sobre a solidão, não estamos nos referindo à “tristeza de estar só”, mas sim, necessariamente, à “quietude íntima”, tão importante e saudável para que façamos um trabalho de autoconsciência, valorizando as nuances de nossa vida interior.

Muitos indivíduos vivem dentro de um ciclo diário estafante. Realizam suas atividades num ambiente de competitividade, agitação, pressa e rivalidade, vivendo em constante tensão psicológica e, por conseqüência, alterando suas funções fisiológicas. Por viverem num estado de cansaço e desgaste contínuos, não conseguem fazer uma real interação entre o meio ambiente e seu mundo interno, o que ocasiona sérios problemas de convivência e inúmeros conflitos pessoais.

Nem sempre é possível abandonarmos a vida alvoroçada, os ruídos e as músicas estridentes, talvez seja até mesmo inviável; mas é perfeitamente realizável dedicarmos algum tempo à solidão, retirando-nos para momentos de reflexão.

Nos instantes de silêncio, exercitamos o aprendizado que nos levará a abrir um canal receptivo à Consciência Divina.

É nesse momento que ficamos cientes de que realmente não estamos sozinhos e que podemos entrar em contato com a voz da consciência. A voz de Deus, por assim dizer, começará a “falar em nós”.

Inúmeras criaturas criam uma mente agitada por temerem que estão vazias, pensam não haver nada dentro delas que lhes dê proteção, apoio e segurança. Acreditam que são uma casca que precisa exclusivamente de sustentação exterior; por isso, continuam ocupando a casa mental ansiosamente, obstruindo seu acesso à luz espiritual.

A mente pode ser uma ajuda efetiva, ou mesmo um obstáculo ferrenho na escolha da melhor direção para atingimos o amadurecimento íntimo. A crença em nossa limitação é que faz com que restrinjamos nossa mente. Isso se agrava quando envolvemo-la no burburinho de vozes, no tumulto e na agitação do cotidiano, passando assim a não avaliarmos corretamente seu verdadeiro potencial.

São muitos os caminhos de Deus, e a solidão pode ser um deles.

“E saindo, foi, como costumava, para o Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.” Jesus Cristo, constantemente, se retirava para a intimidade que o silêncio proporciona, pois entendia que a elevação de alma somente é possível na “privacidade da solidão”. O Cristo Amoroso sabia que, quando houvesse silêncio no coração e no intelecto, se estabeleceriam as bases seguras da relação entre a criatura e o Criador, proporcionando a percepção de que somos unos com a Vida e unos com todos os seres.

“... buscam no retiro a tranqüilidade que certos trabalhos reclamam.(...) Isso não é retraimento absoluto do egoísta. Esses não se insulam da sociedade, porquanto para ela trabalham.”

A Espiritualidade Maior entende que, nos retiros de tranqüilidade, criamos uma sustentação interior, que nos permite sintonizar com as leis divinas e com os valores reais da consciência cristã. Ouçamos com os ouvidos internos, pois ninguém pode assimilar bem uma experiência que não provenha de sua própria orientação interior.

Ninguém é capaz de seguir sua verdadeira estrada existencial, se não refletir sobre sua essência. Não encontraremos o caminho de que verdadeiramente necessitamos, se nós mesmos não o buscarmos, usando nossos inerentes recursos da alma para perceber as inarticuladas orientações divinas em nós. Somente cada um pode interpretar as razões da Vida em si mesmo.

Adotemos o aprendizado com o Senhor Jesus, exemplificado no Horto das Oliveiras: retiremo-nos para um lugar à parte e cultivemos os interesses de nossa alma. Se não encontrarmos um recanto externo que facilite a meditação, nem alguma paisagem mais afastada junto à Natureza, onde possamos repousar da inquietação da multidão, mesmo assim poderemos penetrar o nosso santuário íntimo.

Sigamos o Mestre, recolhendo-nos na solidão e no silêncio do templo da alma, onde exclusivamente encontraremos as reais concepções do amor e da justiça, da felicidade e da paz, de que todos temos direito por Paternidade Divina.
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As Dores Da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto
Ditado por Hammed
Solidão - Páginas 95, 96, 97 e 98.

Post 17 - O Julgamento Final

“Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á sobre o trono de sua glória; - e todas as nações estando reunidas diante dele; separará uma das outras como um pastor separa as ovelhas dos bodes à sua esquerda. – Então o Rei dirá àqueles que estão à sua direita: Vinde, vós, que fostes benditos por meu Pai," etc.
(São Mateus, cap. XXV, v. de 31 a 46)
 (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XV)

Devendo o bem reinar sobre a Terra, é necessário que os Espíritos endurecidos no mal, e que poderiam trazer-lhe perturbação, dela sejam excluídos. Deus deixou-lhes o tempo necessário para a sua melhora; mas, tendo chegado o momento em que o globo deve se elevar na hierarquia dos mundos, pelo progresso moral de seus habitantes, a estada, como Espíritos e como Encarnados; nele será interditada àqueles que não aproveitaram as instruções que estiveram livres para aí receber. Serão exilados em mundos inferiores, como o foram outrora, sobre a Terra, os da raça adâmica, ao passo que serão substituídos por Espíritos melhores. É essa separação, à qual Jesus presidirá, que está figurada por estas palavras do julgamento final: “Os bons passarão à minha direita, e os maus à minha esquerda.”

A doutrina de um julgamento final, único e universal, colocando para sempre fim à Humanidade, repugna a razão, no sentido que ela implicaria a inatividade de Deus durante a eternidade que precedeu à criação da Terra, e a eternidade que seguirá à sua destruição. Pergunta-se de qual utilidade seria, então, o Sol, a Lua e as estrelas, as quais, segundo a Gênese, foram feitas para clarear o nosso mundo. Admira-se que uma obra tão imensa haja sido feita para tão pouco tempo e para proveito de seres cuja maior parte estava devotada antecipadamente aos suplícios eternos.

Materialmente, a idéia de um julgamento único era, até certo ponto, admissível para aqueles que não procuravam a razão das coisas, então quando se acreditava toda a Humanidade sobre a Terra, e que tudo, no Universo, fora feito para seus habitantes: ela é inadmissível desde que se sabe que há bilhões de mundos semelhantes que perpetuam as Humanidades durante a eternidade, e entre os quais a Terra é um ponto imperceptível, dos menos considerados.

Só por este fato vê-se que Jesus tinha razão em dizer aos seus discípulos: “Há muitas coisas que não posso vos dizer, porque não as compreenderíeis,” uma vez que o progresso das ciências era indispensável para uma sadia interpretação de algumas de suas palavras. Seguramente os apóstolos, São Paulo e os primeiros discípulos, teriam estabelecido de outro modo certos dogmas se tivessem os conhecimentos astronômicos, geológicos, físicos, químicos, fisiológicos e psicológicos que se possuem hoje. Também Jesus adiou o complemento de suas instruções, e anunciou que todas as coisas deveriam ser restabelecidas.

Moralmente, um julgamento definitivo e sem apelação é inconciliável com a bondade infinita do Criador, que Jesus nos apresenta, sem cessar, como um bom Pai, deixando sempre um caminho aberto ao arrependimento e pronto a estender os seus braços ao filho pródigo. Se Jesus houvesse entendido o julgamento neste sentido, teria desmentido as suas próprias palavras.

E depois, se o julgamento final deve surpreender os homens de improviso, no meio de seus trabalhos comuns e as mulheres grávidas, pergunta-se com qual objetivo Deus, que não faz nada de inútil e nem injusto, faria nascer crianças e criaria almas novas nesse momento supremo, no termo fatal da Humanidade, para passá-las por um julgamento ao saírem do seio materno, antes que tivessem consciência de si mesmas, enquanto que outros tiveram milhares de anos para se reconhecerem? De que lado, à direita ou à esquerda, passarão estas almas que não são ainda nem boas e nem más e a quem todo caminho ulterior de progresso está doravante fechado, uma vez que a Humanidade não existirá mais?

Que aqueles cuja razão se contenta com semelhantes crenças as conservem, é seu direito, e ninguém nisso encontre o que censurar; mas que não levem a mal que nem todo o mundo seja de sua opinião.
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A Gênese – Allan Kardec
Predições do Evangelho
Julgamento Final
Capítulo XVII – Páginas 349, 350 e 351

25 março 2010

Post 16 - Existência de Deus



1. Sendo Deus a causa primeira de todas as coisas, o ponto de partida de tudo, o eixo sobre o qual repousa o edifício da criação; esse é o ponto que importa considerar antes de tudo.


2. É princípio elementar que se julgue uma causa por seus efeitos, mesmo quando não se vê a causa.

Se um pássaro, cortando o ar, é atingido por um chumbo mortal, julga-se que um hábil atirador o feriu, embora não se veja o atirador. Não é, pois, sempre necessário ter visto uma coisa para saber que ela existe. Em tudo, é observando-se os efeitos que se chega ao conhecimento das causas.


3. Outro princípio também elementar, passado ao estado de axioma, por força da verdade, é que todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente.

Se, se perguntasse qual é o construtor de tal engenhoso mecanismo, o que se pensaria daquele que respondesse que se fez por si mesmo? Quando se vê uma obra-prima, obra de arte ou indústria, diz-se que isso deve ser produto de um homem de gênio, porque a alta inteligência deve ter presidido a sua concepção; não obstante, julga-se que um homem deveu fazê-la, porque sabe que a coisa não está acima da capacidade humana, mas não ocorrerá a ninguém dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante e ainda menos que seja trabalho de um animal ou produto do acaso.


4. Por toda parte reconhece-se a presença do homem por suas obras.

A existência dos homens antediluvianos não se provaria somente pelos fósseis humanos, mas, também, e com igual certeza, pela presença nos terrenos dessa época, de objetos trabalhados pelos homens; um fragmento de vaso, uma pedra talhada, uma arma, um tijolo bastarão para atestar a sua presença. Pela grosseria ou pela perfeição do trabalho se reconhecerá o grau de inteligência e adiantamento daqueles que o realizaram. Se, pois, encontrando-vos em um país habitado exclusivamente por selvagens, descobrirdes uma estátua digna de Fídias, não hesitareis em dizer que os selvagens sendo incapazes de tê-la feito, deve ser obra de uma inteligência superior à dos selvagens.


5. Pois bem! Lançando os olhos ao redor de si, sobre as obras da Natureza, observando a previdência; a sabedoria, a harmonia que presidem a tudo, reconhece-se que não há nenhuma daquelas que não sobre passe o mais alto alcance da inteligência humana. Desde que o homem não pode produzi-las, é porque elas são o produto de uma inteligência superior à humanidade, há menos que se diga que há efeito sem causa.


6. A isto, alguns opõem o seguinte raciocínio:


As obras da Natureza são o produto de forças naturais que agem mecanicamente, em conseqüência das leis de atração e repulsão; as moléculas dos corpos inertes se agregam e se desagregam sob o império dessas leis. As plantas nascem, brotam, crescem e se multiplicam sempre do mesmo modo, cada uma em sua espécie, em virtude dessas mesmas leis; cada indivíduo é semelhante àquele do qual saiu; o crescimento, a floração, a frutificação, a coloração, estão subordinados a causas materiais, tais como o calor, a eletricidade, a luz, a umidade, etc. Ocorre o mesmo com os animais. Os astros se formam pela atração molecular e se movem, perpetuamente, em suas órbitas, pelo efeito da gravitação. Essa regularidade mecânica, no emprego das forças naturais, não acusa uma inteligência livre. O homem movimenta seu braço quando quer, e como quer, mas, aquele que movimentasse, no mesmo sentido, desde o seu nascimento até a morte, seria um autômato; ora, as forças orgânicas da Natureza são sempre automáticas.

Tudo isso é verdade; mas, essas forças são efeitos que devem ter causa, e ninguém pretende que elas constituam a Divindade. São materiais e mecânicas, não são inteligentes por si mesmas, e isto é, ainda, verdade; mas são postas em ação, distribuídas, apropriadas para as necessidades de cada coisa, por uma inteligência que não é a dos homens. A apropriação útil dessas forças é um efeito inteligente que denota uma causa inteligente.

Um pêndulo se move com regularidade automática, e é essa regularidade que lhe dá o mérito. A força que o faz assim agir é toda material e nada inteligente, mas o que seria desse relógio se uma inteligência não houvesse combinado; calculado, distribuído o emprego dessa força para fazê-lo caminhar com precisão? Do fato de que a inteligência não está no mecanismo do relógio, e de que ela não é vista, seria racional concluir que não existe? Ela é julgada pelos seus efeitos.

A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo atesta a inteligência e o saber do relojoeiro. Quando o relógio vos dá, no momento próprio, a informação de que tendes necessidade, jamais veio ao pensamento de alguém dizer: Eis um relógio bem inteligente.


Ocorre o mesmo com o mecanismo do Universo; Deus não se mostra, mas se afirma pelas suas obras.


7. A existência de Deus é, pois, um fato adquirido, não somente pela revelação, mas pela evidência material dos fatos.

Os povos selvagens não tiveram revelação e, não obstante, crêem, instintivamente, na existência de um poder sobre-humano; vêem coisas que estão acima do poder humano, e delas concluem que provêm de um ser superior à humanidade. Não são mais lógicos do que aqueles que pretendem que elas se fizeram sozinhas?
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A Gênese - Allan Kardec
Deus - Existência de Deus
Capítulo II - Páginas 47, 48 e 49